Parece
que
as
coisas
simplesmente
SÃO,
e
pronto.
Tudo
acontece
porque
acontece;
fim.
Hoje,
depois
de
muito
batecabeça,
eu
acredito
que
é
inútil
se
debruçar
sobre
o
mundo
real,
como
um
leitor
de
romance,
procurando
sentido.
Talvez
exista
uma
relação
perfeitamente
coerente
entre
todas
as
coisas
– eu
considero
a
possibilidade;
afinal
de
contas,
não
sou
fanático.
Digamos
que
o
universo
obedeça
a
uma
lei
fundamental,
mais
profundamente
significativa
e
entrelaçada
do
que
o
espetáculo
caótico que
se
desenrola
ante
a
plateia
da
nossa
consciência
e
dos
nossos
sentidos.
O
problema
é
que
se
tal
relação
existe,
nunca
foi
exposta.
As
nossas
teorias
sobre
o
Todo
– como
as
teorias
medievais
sobre
o
movimento
dos
astros
– não
suportam
questionamentos
insaciáveis;
não
explicam
peremptoriamente
o
suposto
relógio
de
Deus,
ou
do
acaso.
Sabemos
demais
para
aceitar
interpretações
singelas,
e
somos
singelos
demais
para
chegar
à
última
resposta
(considerando
que
essa
resposta
exista).
De
forma
que
todo
esclarecimento,
por
mais
completo
que
seja,
é
manco.
Considerando
ainda
que
essa
Lei
(que
esse
sentido
comum)
exista,
façamos
exercícios
mais
amplos
de
credulidade
– vamos
supor
que
a
explicação
é
óbvia,
que
está
à
vista
de
todos.
Se
for
assim,
ninguém
ainda
foi
capaz
de
apontá-la
ou
descrevê-la
satisfatoriamente.
Daí
as
discussões
acaloradas
no
interior
dos
templos;
por
trás
das
janelas
dos
edifícios,
ônibus
e
universidades...
Passa
tudo
muito
rápido,
ou
muito
distante,
e
a
gente
não
pode
ver
a
Coisa
toda.
Tudo
é
muito
confuso,
fugaz,
amplo,
enganoso,
lento,
oculto,
ou
complicado.
Se
parece
necessário
– fundamental
– admitir
a
possibilidade
dessa
relação,
e
se
é
razoável
que
dediquemos
certo
empenho
em
procurar
por
ela,
também
parece
prudente
considerar
um
método
eficiente
de
vida
dentro
do
qual
possamos
ignorá-la
por
completo.
Em
outras
palavras:
se
a
ordem
é
uma
possibilidade,
o
caos,
por
sua
vez,
é
evidente.
E
quem
questiona
insaciavelmente
deve
aprender
a
fazer
concessões.
Viver
sem
um
sentido
que
unifique
as
inumeráveis
revoluções
dos
astros,
dos
átomos
e
dos
pedestres
pela
cidade.
Mas
conclusões
importantes
não
podem
ceder
à
preguiça.
Vamos
ainda
mais
longe:
se
o
universo
é
governado
por
uma
lógica
– uma
intenção
– pode
ser
que
nosso
desconhecimento
dessa
intenção
e
dessa
lógica
faça
parte
do
plano.
Basta
dizer
que
daqui
(de
nosso
ridículo
ponto
de
observação
individual,
sem
qualquer
tipo
de
cálculo)
não
podemos
perceber
que
a
Terra
é
redonda.
Vemos
apenas
o
Sol
e
as
estrelas
se
movendo.
Sombras
na
Lua.
Nuvens.
Navios.
Evidências.
Insinuações.
Mosquitos
que
caminham
sugestivamente
sobre
qualquer
fruta
que
se
queira
comer.
Migalhas.
Isso.
O
que
temos
são
migalhas. Pedaços.
Fragmentos
aleatórios
do
que
imaginamos
ou
esperamos
fazer
sentido
num
contexto
maior.
Algumas
coisas
se
repetem
em
demasia,
enquanto
outras
não
aparecem.
Procuramos
por
qualquer
tipo
de
trilha.
Tentamos
isolar
o
que
é
mais
importante.
Diz-se
que
tudo
tem
uma
função
e
que
cada
grão
de
areia
faz
parte
do
plano.
Depois,
durante
a
investigação,
os
grãos
de
areia
são
descartados.
Infinitos
fatos
pequenos
que
desprezamos
como
irrelevantes,
ou
insignificantes.
Impossível
separar
o
importante
do
resto,
porque
simplesmente
não
existe
resto.
Se
quisermos
ter
uma
ideia
do
Todo,
então
Tudo
é
importante.
Aqui,
esbarramos
num
problema
sério.
Não
podemos
considerar
Tudo.
Não
temos
ferramentas
pra
isso. Nem
mesmo
chegamos
a
perceber
o
que
é
Tudo.
Ainda
outro
dia,
um astrofísico sugeria
que
as
partículas
subatômicas
sequer
existiam
antes
que
as
tivéssemos
observado.
E
quanto
mais
fundo
penetramos
no
buraco,
descobrimos
apenas
que
este
é
maior
do
que
se
imaginava
antes.
Brincamos
de
medir
o
oceano
com
uma
régua
de
vinte
centímetros.
Alguns
acreditam-se
os
arquitetos
de
meios
mais
eficientes.
Réguas
de
um
metro.
Que
seja.
Ninguém
nunca
chega
lá.
Não
faz
muita
diferença.
Albert
Einstein,
Alfred
E.
Newman,
Umberto
Eco,
Dona
Florinda.
Não
faz
muita
diferença.
Vistos
um
pouco
lá
de
cima,
são
como
grãos
de
areia
sem
personalidade.
Apenas
nomes.
Rostos. Pequenas
particularidades
acidentais.
Tão
diferentes
entre
si
quanto
uma
estrela
da
outra.
Vá
tentar
entender
o
Universo,
enquanto
perde
seu
tempo
curto
estudando
a
diferença
entre
duas
estrelas.
Tente
compreendê-lo
sem
conhecer
essa
diferença...
Alguém
encontra
uma
mensagem
codificada
na
Bíblia.
Alguém
encontra
outra
mensagem
no
Moby
Dick.
Os
livros
se
acumulam
nas
bibliotecas
e
ninguém
ainda
chegou
lá.
Brincamos
com
os
interruptores
enquanto,
de
fato,
gostaríamos
de
abraçar
as
estrelas.
Braços
curtos.
Temos
que
nos
virar
com
isso.
Temos
que
aprender
a
viver
com
isso.
Talvez
os
planetas,
ou
os
átomos,
entendam
o
que
está
acontecendo.
Mas
nós
gememos
atropelados
no
meio
do
caminho.
Pra
falar
de
mim:
desperdicei
muito
tempo
tentando
ser
coerente.
A
vida
não
se
desenrola
com
a
estrutura
rígida
e
fácil
das
frases.
Por
que
feliz?
Por
que
triste?
A
verdade
é
que
isso
não
importa. São
coisas
que
vêm
e
que
passam.
Como
uma
gripe.
Mistérios
além
de
mim,
que
eu
simplesmente
percebo. Que
sou
obrigado
a
aceitar.
Como
o
céu.
Como
as
montanhas.
Abra
sua
janela
e
dê
uma
espiada
por
aí.
Tudo
é
essencialmente
belo.
Não
importa
se
você
acredita
que
isso
foi
feito
por
um
Deus
cheio
de
dedos,
ou
que
é
tudo
apenas
o
produto
fortuito
da
mais
espantosa
chance.
Não
importa
que
tipo
de
sentido
você
dá
ao
mundo
enquanto
olha
para
ele.
Agora,
por
exemplo,
eu
não
consigo
dormir
e
minha
janela
já
está
aberta.
A
despeito
das
minhas
aflições
e
dores
e
cigarros
fumados,
há
um
dia
lindo
se
levantando
lá
fora.
Se
você
conseguir
esquecer
por
um
instante
que
é
uma
pessoa
cheia
de
pequenas
preocupações
e
mesquinharias,
se
observar
o
mundo
através
de
um
olhar
atento
e
desinteressado,
inocente
e
distraído,
vai
perceber
que
tudo
é
colorido
e
cheio
de
formas
improváveis.
Mas
o
problema
é
que
não
pensamos
com
os
olhos.
Também
há
um
cérebro
aqui
dentro
e
ele
me
diz
que
aquilo
é
mau
e
que
aquilo
é
extravagante.
A
nossa
vontade
de
rotular
estraga
o
clima
de
festa.
Também
há
um
estômago,
e
dois
rins.
Um
fígado.
Precisamos
comer
e
beber
e
nos
mover
e
falar.
Eu
preciso
dormir,
mas
não
quero.
Precisamos
sentir
e
querer
e
vamos
todos
morrer.
Precisamos
nos
proteger,
porque
ficamos
com
medo.
Nossa
própria
natureza
humana
nos
arrasta
pra
dentro
do
buraco,
mas
não
precisa
ser
assim.
Todos
gostariam
de
dizer
com
convicção
sincera
e
argumentos
sólidos
que
suas
vidas
têm
sentido.
Uma
finalidade.
Uma
intenção.
Mas
isso
não
é
verdade.
Encontrar
um
sentido
nas
coisas
é
simplesmente
um
exercício
de
ignorar
outros
aspectos
que
não
fazem
parte
daquele
sentido
escolhido.
O
dia
foi
perfeito,
ignore
os
grãos
de
areia.
A
noite
foi
terrível,
ignore
as
estrelas.
Você
pode
traçar
uma
linha
reta
do
princípio
ao
fim,
mas
o
caminho
não
é
percorrido
em
linha
reta.
Cada
gesto
e
cada
passo
estão
impregnados
de
infinito.
Insistimos
em
interpretar
cada
coisa
como
se
ela
existisse
isolada
do
resto.
Continuamos
protegendo
nossa
convicção
de
que
as
coisas
são
exatamente
como
nós
as
percebemos.
Como
pensamos
sobre
elas.
Que
existe
qualquer
tipo
de
segurança.
Isso
se
explica,
provavelmente,
porque
passamos
a
maior
parte
do
tempo
concentrados
unicamente
no
que
acontece
à
nossa
volta.
Porra, sequer à nossa volta examinamos. Passamos a maior parte do
dia dentro
de
nossas
próprias
cabeças.
Já
disseram
por
aí:
“Só
enxergamos
o
que
olhamos,
e
só
olhamos
para
o
que
já
tínhamos
visto.”
Aquilo
parece
importante
por
alguns
instantes,
e
de
repente
não
é
mais.
Algo
surge
como
o
centro
do
mundo,
num
determinado
momento.
Como
nosso
umbigo.
De
repente,
a
importância
desaparece,
ou
se
desloca.
De
repente,
estaremos
todos
mortos.
Não
existe
uma
sequência
lógica,
numa
observação
desinteressada
dos
fatos.
A
busca
de
um
sentido
é apenas
uma
expressão
da
nossa
vontade
egocêntrica
de
reorganizar
o
mundo
à
nossa
própria
maneira. Dentro
de
uma
lógica
que
NÓS
inventamos.
A
crença
de
que
alguma
coisa
(nossa
imagem
e
semelhança)
está
mexendo
os
pauzinhos.
Mas
os
pauzinhos
estão
soltos
e
se
mexem
dentro
da
sua
própria
lógica,
que
parece
alheia
e
insensível
aos
destinos
e
aspirações
humanas.
As
coisas
simplesmente
SÃO;
não
têm
lógica,
ou
finalidade
intrínseca.
Às
vezes,
a
vida
é
como
a
prova
de
uma
professora
chata
do
primário.
Você
não
sabe
a
resposta
da
segunda
questão
– então
chuta
e
continua
lendo...
No
enunciado
da
quinta
pergunta,
você
encontra
a
solução
da
segunda,
mas,
ei,
você
não
pode
rasurar.
O
jeito
é
entregar
a
prova
com
firmeza,
perturbado
pela
consciência
de
ter
feito
merda
em
algum
lugar.
Transtornado
pelo
desejo
intenso
e
inútil
de
voltar
atrás,
com
um
conhecimento
que
adquiriu
depois
da
oportunidade,
com
o
qual
poderia
consertar,
aliviado,
os
erros
– mas
regras
são
regras,
e
você
tomou
no
cu.
E
o
tempo
é
o
tempo.
E
a
vida
é
a
vida.
É
tudo
assim
mesmo:
acelerado,
estronho,
dnesoexco.
O
resto
é
conversa
fiada.
Resultado
dessa
coisa
que
nos
preenche
a
alma
e
ocupa
todos
os
espaços
que
eu
gostaria
cheios
de
certa
substância
menos
falsa.
Essa
coisa
que
sai
de
mim
em
forma
de
letrinhas,
palavras,
frases
e
pensamentos
confusos.
Signos
que
se
batem
e
se
cruzam
como
organismos
vivos,
entre
eventualidades
elementares
de
uma
seleção
natural.
Tão
cheio
de
ideias
e
ainda
me
sinto
vazio.
Queria
estar
cheio
de
outras
coisas
– mas
o
espaço
acabou
e
as
letrinhas
não
saem
quando
fico
de
cabeça
pra
baixo.
Fazer
o
quê?
Você,
como
eu,
pode
estar
cansado
da
complexidade
do
mundo,
e
de
todos
os
murros,
cercas
e
paredes
às
portas
do
corpo
e
da
mente.
Diz-se
que
o
tempo
é
o
maior
de
todos
os
mestres.
Um
mestre
que,
tragicamente,
acaba
por
matar
todos
os
seus
discípulos.
(Isso
será
repetido,
porque
a
repetição
faz
parte
da
realidade.)
Proponho,
em
nossa
defesa,
um
movimento
rebelde.
Vamos
matar
o
tempo.
Eu
não
sei
da
sua
vida,
então
vou
falar
da
minha.
Foi
assim:
eu
nasci,
e
então
me
deram
um
tapa
na
bunda.
(Na
verdade,
não
lembro
dessa
parte,
mas
acredito
que
foi
assim).
Blá,
blá,
blá...
Então
fui
numa
festa,
onde tive oportunidade de conversar com Linda.
Às
vezes
nos
víamos
de
longe,
na
universidade.
Era
a
primeira
vez
que
conversávamos
e,
porra,
como
ela
me
encantava...
Que
homem
até
hoje
teve
uma
musa
que
não
fosse
a
mais
linda,
a
mais
amável
e
a
mais
desejável?
Linda
caiu
estrondosa
como
um
raio
em
minha
vida.
E
naquele
dia
eu
certamente
poderia
ter
escrito
os
versos
mais
apaixonados
e
ansiosos,
mas
este
livro
começa
no
fim.
Uma
semente
de
realidade
que
brota
sobre
o
túmulo
do
amor.
Eu,
que
sempre
fui
um
paciente
apreciador
do
flerte,
insistia
como
um
piolho
de
micareta.
Ela
não
queria
ficar
comigo.
Havia
um
namorado
– distante,
mas
havia.
Eu
teimava,
eu
teimava...
E
hoje
me
parece
que
eu
persistia
com
a
consciência,
lá
no
fundo,
de
que
algo
daria
errado.
Agora,
quando
preciso
mas
não
quero dormir,
sinto
que
cada
um
conhece
a
sua
própria
sina.
É
um
engano;
uma
tendência
à
pregnância.
A
busca
de
um
sentido
cujas
contradições
ficam
evidentes
na
experiência
imediata,
mas
que
nossa
mente
– viciada
em
completar
espaços
vazios
pra
formar
figuras
simples
– insiste
em
projetar
no
passado.
Eu
não sabia de porra nenhuma. O mundo é imprevisível. É minha
cabeça idiota que fica procurando desculpas para se gabar com
“Eu já sabia!”, ou “Entendi!”. Está claro pra mim que o
sentido atual das experiências passadas vai se transformando numa
farsa. Observo a criação involuntária de uma história fraudulenta
com a qual minha consciência pretende encobrir o que de fato
aconteceu. Por
isso
escrevo. Estou
sendo
atravessado
por
uma
dor
extrema
e
significativa,
que
em
alguns
anos
(provavelmente)
será
transformada
(involuntariamente)
numa
explicação
simples
e
fantasiosa.
Uma
estrada
tortuosa
que
será
lembrada
como
linha
reta
entre
A
e
B.
Eu
quero
saber
a
verdade.
Preciso
começar
de
A,
antes
que
minha
mente
conheça
B.
Fotografar
meu
estado
mental
durante
o
caminho
e
comparar
a
trajetória
de
fato
com
as
conclusões
tardias.
Eu
insistia
e
ela
dizia
não.
Então
a
festa
acabou.
Ela recusou todos os beijos,
mas aceitou
a
carona.
Estamos
parados
na
frente
de
sua
casa.
Depois
de
uma
última
tentativa,
do
último
“Não
posso”,
eu
espero
que
ela
desça
do
carro.
Ela
hesita,
antes
de
sair.
O
corpo
dela
volta.
Um
abraço.
Eu
me
derramo,
por
um
segundo.
Então
afrouxo
os
braços
e
vou
retirando
o
rosto.
Ela
me
beija.
Naquele
primeiro
dia,
ficamos
um
longo
tempo
ali,
dentro
do
carro.
Depois
disso,
foram
outras
tantas
eternidades;
dentro
do
carro,
nos
banquinhos
das
praças,
na
frente
do
templo
ecumênico
universitário...
Permite
um
conselho?
A
beleza
existe,
cara.
A
beleza
realmente
existe.
Sei
que
isso
não
é
muito
lá
um
conselho,
mas
é
uma
coisa
que
precisava
ser
dita.
Era
tudo
maravilhoso
e
eu
acordava
abraçando
o
travesseiro.
E
era
tão
bom
compartilhar
essas
maravilhas
com
um
anjo
e
eu
dizia
que
ela
transformava
tudo
que
chegava
em
beleza
e
tudo
que
saía
em
satisfação.
E
era
tanta
ternura
e
um
sentimento
tão
bom
para
saborear
sempre
que
precisasse
dele
– a
mera
consciência
de
que
ela
estava
lá
fora,
em
algum
lugar... Cheguei
a
acreditar
que
eu
era
uma
pessoa
verdadeira
e
profundamente
boa.
Dessas
que
não
são
feitas
de
carne.
Dessas
que
não
existem.
Mas
o
tempo
passa
e
chega
uma
hora
em
que
as
pessoas
precisam
tomar
decisões.
As
pessoas
precisam
escolher
entre
uma
coisa
e
outra
e,
eu,
por
aqui,
já
estou
acostumado
a
viver
com
um
punhado
de
vermes
dentro
da
boca.
Não
foi
a
primeira
vez
que
chego
em
segundo
lugar.